No livro Sapiens, Yuval Harari , de que quem sou fã de carteirinha, discorre sobre as razões pelas quais o Sapiens é a espécie mais bem sucedida do planeta.
Segundo ele, a nossa capacidade de criar ideias (mitos), acreditar nelas e viralizá-las é a grande responsável por sermos os “donos do mundo”. País, dinheiro, capitalismo, comunismo, deuses, entre outras, são apenas ideias que foram capazes de unir os indivíduos da espécie Sapiens e que a ajudaram a dominar o mundo.
A ideia mais poderosa de todas é o Dinheiro: em qualquer parte do mundo, as pessoas acreditam que um pedaço de papel, com desenhos bonitos e algarismos romanos, possui valor. O que mantém a “ideia-dinheiro” viva é a crença que temos nela, embora ela seja intangível.
Atualmente, ideias de todos os tipos sobre como/quando/onde/de quem é a culpa pelo mundo estar vivendo essa pandemia, ou qual a intenção escusa por trás das soluções para lidar com a pandemia, proliferam nas redes sociais, viralizam de celular para celular e infectam todos que as recebem.
A infecção causa dúvida, impotência, indignação, desesperança, raiva, intolerância, discriminação, desejo de vingança e outros sentimentos que corroem nosso corpo e derrubam nosso sistema imunológico.
Mas, por que permanecemos contaminando as pessoas, a nossa volta, com ideias que deixam nossas mentes adoentadas?
Isso me faz lembrar de um outro livro chamado “Contagious” de Jonah Berger , que fala do conceito de “moeda social”.
As pessoas compartilham ideias que as façam parecer interessantes, inteligentes e antenadas perante aos outros.
Há 10 anos, mais ou menos quando larguei a publicidade, nossos clientes nos pediam para “criar um viral”. Isso significava criar uma ideia barata, para veicular gratuitamente nas redes sociais, e que fosse tão interessante, que as pessoas quisessem compartilhar automaticamente.
Compartilhar que o vírus passou de um animal para os seres humanos já não possui valor nenhum. Por outro lado, compartilhar teorias de que existe uma conspiração para acabar com a economia de alguns países, privilegiando outros é o que gera valor atualmente. O mensageiro, certamente, será visto como o “cara que sabe das coisas” e seu “valor social” ficará cada vez mais alto.
Atualmente, ninguém tem certeza da veracidade de nada do que lê ou ouve, mas passar a ideia adiante nos faz sentir mais bem informados e parte integrante da história.
E assim vamos nós, a serviço de governos, televisões, políticos e outros poderes, contaminando uns aos outros. E assim vamos nós, a serviço de gente com tempo para legendar vídeos de autoridades com textos falsos; gente que resgata imagens de dez anos atrás e faz parecer que são atuais; gente que conecta fatos coincidentes criando teorias descabidas; infectando uns aos outros com ideias de todos os tipos.
Tolinhos que somos! As informações que chegam até nós são as informações que querem que cheguem até nós! Portanto, somos todos inocentes úteis viralizando o que interessa ao outro.
Mas, será que precisamos mesmo propagar toda e qualquer ideia que chega em nossos celulares, computadores e aparelhos de TV?
Hoje, as pessoas que podem, estão praticando o isolamento social para quebrar o ciclo de contaminação pelo CORONAVÍRUS.
Felizmente, outras, além do isolamento social, estão optando também pelo isolamento “ideal”, mantendo-se longe das TVs e das redes sociais para evitar a infecção mental pelo IDEIAVÍRUS.
Cientes deste poder, que saibamos escolher as ideias que, ao serem compartilhadas, contribuirão para evoluirmos para uma espécie mais generosa, capaz de acolher a sua própria espécie e todas as outras que dividem a Terra conosco.
E isso aí. Estou sentindo uma inércia. Vou ter que dar um bom “reset” pois Ideiavirus e muito contagiante.