Vocês se lembram do filme Rio, aquele da arara azul que é criada nos Estados Unidos, e acaba sendo capturada e voltando para o Brasil?
Há uma cena neste filme que é o retrato da cultura brasileira.
O ornitólogo Túlio, que vem ao Brasil atrás de Blu, chega bem durante o carnaval. Ele está passando pela Avenida Atlântica com seu guia brasileiro, quando o sinal fecha e um bloco de carnaval atravessa a rua bem em frente ao carro. Uma passista de biquini fio dental dourado, salto plataforma e adereço nos cabelos acena para o brasileiro dentro do carro que acena de volta e diz: _ Ela é minha dentista.
Fico imaginando esta cena aqui na China onde minha colega de treinamento em Bali, uma chinesa de 40 anos, ia fumar escondida na varanda do quarto para ninguém ver.
Outra cena que ficou na minha cabeça aconteceu no filme A Travessia, história de um acrobata francês que cisma de caminhar em um cabo entre as torres gêmeas.
Depois de montar todo um esquema para burlar a segurança e instalar o cabo, o que toma setenta por cento do filme, ele finalmente se prepara para a travessia, mas percebe que se esqueceu de colocar a roupa de equilibrista na mochila e paralisa: sem a roupa, ele não se sente capaz de se equilibrar.
E o que uma coisa tem a ver com a outra?
Todos nós temos nossa própria identidade, que vai desde os nossos traços físicos até nossos valores e crenças, e ela se reflete nas nossas roupas, na marca do nosso carro e por aí vai. Eu trabalho em casa, mas não abro mão do brinquinho e batom quando sento no meu escritório.
E o que acontece no Carnaval?
A gente se permite adotar outras identidades ao longo dos quatro dias (no meu tempo, o Carnaval ia só de sábado a terça-feira). A dentista séria e profissional do filme vira passista sexy, homem se veste de mulher, empresário se veste de palhaço. Viramos odalisca, mulher maravilha, presidiário, palhaço, marinheiro, enfermeira, para falar apenas das fantasias mais tradicionais.
A gente assume novas identidades, bebe demais, beija na boca de qualquer um, amanhece na sarjeta e, na semana seguinte, voltamos a ser quem somos de verdade.
De verdade? Ou dentro de nós, sorrateiramente, se escondem nossas fantasias mais secretas que ganham vida durante o Carnaval?
Sei lá! E quem se importa!
Eu aqui da China, com minha máscara de corona vírus e cheia de inveja, desejo a todos vocês um excelente carnaval, com ou sem fantasia!
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